quinta-feira, 10 de maio de 2012

As raízes do anticapitalismo

Henrique Otani*

Há atualmente, de maneira generalizada, a crença de que os movimentos anticapitalistas surgiram entre as massas trabalhadoras das grandes “indústrias exploradoras”. Tal afirmação incorre em um grave erro de análise histórica: o ódio ao capitalismo – ou melhor: ao embrião do que viria a se tornar o capitalismo comercial do século XVI – surgiu ainda no sistema denominado feudal, quando a população era predominantemente rural.

Durante o feudalismo, as escassas e diminutas fábricas atendiam quase exclusivamente aos ricos que viviam nas cidades. Além disso, a sociedade era denominada estamental, isto é: o homem nascido humilde, assim morreria, em contraponto ao aristocrata, que nasceria e morreria dono de seus títulos e terras. A mobilidade social existia, mas era irrisória.

O aumento da população rural trouxe consigo a fome e, com as más condições de higiene, as doenças. O acesso às fábricas era vedado, sobrando apenas a servidão rural como opção de trabalho. É a denominada Baixa Idade Média, na qual observam-se a crise do sistema vigente e a transposição do feudalismo com a crescente influência de um sistema mercantil. Destacam-se ainda, durante o século XIV, as cíclicas crises climáticas, que trouxeram secas e diminuiram as colheitas, agravando a situação de fome entre os marginalizados.

Nesse contexto, ocorreram em meio aos miseráveis, tentativas de criação de pequenos negócios e corporações de ofícios, dentre os quais alguns progrediram. Ainda, contando com o aparecimento de novas fábricas e o consequente aumento de beneficiamento da matéria-prima, houve aumento do número de trabalhadores nas indústrias, ocasionando aquilo que os aristocratas rurais germânicos chamaram de landflucht – ou êxodo rural: no campo, a população vivia a situação deplorável típica da época, e havia nas cidades e suas redondezas, mais especificamente nas fábricas, uma oportunidade de receber um salário capaz de elevar consideravelmente os padrões de vida da família. Diante do exposto, a “fuga do campo” diminuiu o número de servos da aristocracia fundiária, restando-lhe uma única solução: pagar salários mais altos na tentativa de manter seus servos no campo. Portanto, observa-se a formação de um sentimento de aversão ao “capitalismo primitivo”, não na massa assalariada, e sim na elite agrária, detentora das terras que ficariam carentes de servos responsáveis pela agricultura.

Faz-se necessário concluir que, mesmo havendo insatisfações dentre os trabalhadores dessas fábricas manufatureiras, as condições sociais de quem nelas trabalhava era muito superior se comparada à vida no campo. Basta observar, anos mais tarde, o aumento da população do Reino Unido entre 1760 e 1830: durante esses 70 anos – utilizando uma determinação positivista – chamados de Revolução Industrial, o número de habitantes dobrou, façanha que seria impossível duzentos anos antes do advento do capitalismo.

Texto originalmente publicado no blog Sapientia et Veritas

*É editor do blog Sapientia et Veritas.

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